Total de visualizações de página

domingo, 30 de abril de 2017

Plena comunicação é ilusão *By - SANDRA BOVETO



Plena comunicação é ilusão

Acredito que a plena e autêntica comunicação por meio da linguagem verbal ainda é uma ilusão.
Essa capacidade que os seres humanos orgulham-se de ter, que os colocaria em posição superior aos demais seres perceptíveis do planeta, é realmente incrível e fantástica.
Incrível, pois não se pode crer nela realmente.
Fantástica, por tratar-se de uma fantasia.
A linguagem verbal é uma fantasia composta por signos, dotados de certa compreensão devido a convenções humanas. Mas essa compreensão é um tanto subjetiva, leva frequentemente a más interpretações e, muitas vezes, "dá em merda”. Ops! Sim, eu usei essa palavra. Com certa dificuldade, confesso. Por motivos um tanto "não vêm ao caso", tenho resistência, falta de hábito e de vontade de usar palavrões ou palavrinhas feias. Mas, veja só, “merda” é uma das raras palavras que não dão margem a interpretações muito divergentes. Seria, então, pertinente sujar um pouco o vocabulário para melhorar a comunicação? Talvez certas personalidades de destaque no cenário político/social tenham percebido isso há mais tempo e decidiram usar palavrões em situações um tanto impróprias... Ou talvez, por isso, temos visto "elos perdidos" circulando por aí, corroborando a Teoria Evolucionista, usando secreções e excrementos como argumentos... Mas esses seres pertencem a um período anterior ao uso dos signos linguísticos e não me parecem muito racionais ou capazes de manter uma argumentação... Portanto, volto atrás para seguramente desprezar a “m....”, com a conotação acima.
A fantasia da comunicação humana, especialmente a verbal, até poderia ser realidade. Por vezes, parece que é. Mas nós, seres humanos, temos um considerável grau de egocentrismo que nos impede de utilizar regularmente outros componentes essenciais à comunicação, que transcendem os signos e que realmente poderiam viabilizar a linguagem como algo real, a empatia, por exemplo.
Normalmente, os seres humanos estão com toda a sua peculiar racionalidade concentrada nos próprios interesses ou, ainda, não conseguem abandonar a lupa das emoções e ver uma “big picture” do tema; não tentam ir além de ideias preconcebidas; não chegam a perceber que sua visão e entendimento estão intrínseca e irremediavelmente viciados pela sua própria história e experiências; e viciados também pela necessidade de ser o fabuloso proprietário da verdade; de estar naquele suposto lado certo; viciados pelo fato de costumeiramente não admitir, quando na verdade deveria ser um hábito, utilizar diferentes perspectivas durante tentativas de comunicação.
A comunicação verbal (seja oral ou escrita) está comumente viciada, no mínimo, por uma simples questão de o interlocutor estar centrado demais nas próprias emoções e no que vai dizer em seguida, não atentando para os sinais sonoros ou visuais que sua audição ou visão estão recebendo e mandando para o cérebro. Não se trabalha dentro da mente as informações recebidas de forma isenta, pois isso demanda um exercício árduo, além do desprendimento do ego. Considerando nossa humana imperfeição, essa isenção pode apenas ser aperfeiçoada, mas nunca será perfeita.
Então, quem estaria em condições de se comunicar de verdade, com autenticidade? Como evitar batalhas, ainda que nas suas mais suaves expressões? Muito difícil não ser surpreendido, com uma indesejável frequência, pela frustração de um mal entendido.
A plena comunicação pela linguagem verbal é ilusão! Às vezes funciona e às vezes não.
Trata-se, portanto, de apenas mais uma teoria: a Teoria da Ficção da Possibilidade de Comunicação Verbal Plena entre Humanos. Mas é uma teoria cuja prática não pretendo abandonar.
E há um universo onde essa teoria pode ter um prazeroso êxito - o universo da ficção! Talvez, por mera congruência, uma teoria fictícia tenha uma probabilidade maior de funcionar na ficção do que na realidade.
De qualquer modo, é o que temos. Porém não é tudo o que temos.
Ter consciência sobre essa ilusão pode ser um meio de amenizar a nossa deficiência comunicativa. Lembrar-se do fato de que somos, em grande parte, a medida de nossos julgamentos sobre os outros e sobre o mundo pode levar-nos a outras virtudes humanas, supostamente adquiriras ao longo da nossa existência, mas esquecidas nos diálogos diários, tais como tolerância, paciência, respeito, empatia e boa vontade, ainda que essas virtudes se pratiquem pela simples esperança de reciprocidade no trato. Isso pode preencher as lacunas deixadas pelas tentativas de comunicação por signos linguísticos, num estágio ainda muito egocentrado da nossa evolução como seres em treinamento de vida em sociedade.
(Sandra Boveto)

Nenhum comentário:

Postar um comentário