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terça-feira, 24 de novembro de 2015

VENTO QUE A ETERNIDADE SOPRA AOS OUVIDOS Manoel Ferreira




Explicações comem tempo e papel, demoram a ação e acabam por enfadar, não apenas quem as ouve, lê, também quem as dá, quem as escreve. O melhor é ouvir, ler com atenção. Se não ficarem entendidas e compreendidas hoje, o tempo incumbir-se-á de esclarecê-las, elucidá-las, a inteligência e sensibilidade no futuro serão outros, a alienação de nosso presente terá sido extirpada. Se ficarem hoje, a semente foi plantada aqui, tanto melhor: a inteligência e sensibilidade futuras, com efeito, serão mais percucientes.
Não há quem não tenha passado pela experiência do apelido nos tempos escolares. Se dava atenção, o apelido pegava mesmo, a insatisfação seria eterna, quantos apelidos de homens já idosos não prevalecem, de alguns nem se sabe o nome verdadeiro, por haverem importado, brigado, batido e apanhado. Se não deram atenção, foi logo esquecido. No mesmo patamar de análise, se se der atenção aos comentários negativos, depreciativos, vai-se passar a vida inteira se explicando, defendendo-se. O melhor é assimilar as críticas, crescer com elas. Só dou atenção às críticas, aos comentários dou-lhes as costas, valorizo a minha soberania. Contudo, é preciso nalgumas circunstâncias e situações res-pondê-las com categoria e propriedade.
Perguntemos: o que é “ler”. Ler é entender e compreender as idéias, pensamentos, analisar e interpretar as estruturas, molduras, mensagens de um texto, assimilar a sensibilidade e espiritualidade do conhecimento, buscar transformações da condição e natureza humanas, mudanças de posturas, condutas morais e éticas. Ler é con-templar o conhecimento, é buscar saciar a sede de VIDA.
Quem, nestas perspectivas, sabe ler em nossa modernidade? Resposta dura e seca: ninguém. Antigamente, o analfabeto era quem não sabia ler, hoje, há mais analfabetos que antigamente, ler aprenderam, mas não sabem o que é ler. Em qualquer nível do conhecimento, ninguém sabe interpretar e analisar o que é lido, são opiniões chinfrins, pontos de vista medíocres, mesquinhos. Em Literatura, a questão é ainda mais complicada. Costuma-se dizer que as verdadeiras responsáveis são as pessoas, pois não gostam de ler, são preguiçosas; se lêem alguma coisa, lêem justamente as porcarias, não é preciso pensar, refletir, meditar sobre a leitura. Nas prateleiras das livrarias, difícil é encontrar Balzac, Stendhal, Dostoiévski, Virgílio Ferreira, Victor Hugo, Machado de Assis, Gregório de Matos, etc., etc. – tais leituras são privilégios de intelectuais, escritores, doutores, especialistas, homens da cultura, e são a minoria, não trazem resultados para as editoras -, encontra-se em série José Saramago, Paulo Coelho, as maiores porcarias do mercado, (não li, não gostei), há outros que andam ombro a ombro com eles.  Recentemente, o poeta Ivo Pereira pediu-me emprestado A mulher de trinta, Balzac, prometeu a uma amiga e não encontra a obra em livrarias. Prometi-lhe emprestá-lo. As condições editoriais no Brasil está uma vergonha pública: só se publica o que dá retorno às editoras, e o retorno só vem com as porcarias. Em termos, isto é verdade: o conhecimento profundo das coisas, da vida, não tem qualquer cabimento em nosso mundo, o importante mesmo são os bens materiais, o dinheiro no bolso, o conforto que eles proporcionam. 
Há-de se considerar o que ninguém tem coragem suficiente para dizer com todas as letras. Os alunos, as pessoas são responsáveis, mas a responsabilidade maior se encontra no sistema de ensino. Os professores nada sabem de literatura, para eles e para o sistema o importante são aquelas velhas e surradas características dos períodos literários, o estudo se concentra nisso desde tempos imemoriais, estudo inferior, deturpado, adulterado. Para se saber, conhecer o que é isto Literatura só mesmo com os conhecimentos filosóficos, teológicos, e eles nada sabem disso. Só tive em toda a minha vida de estudante uma professora realmente conhecedora da Literatura, Vilma Simões, curvelana, ex-professora do Instituto Santo Antônio, Escola Estadual Bolivar de Freitas, seus conhecimentos e eficiência influenciaram-me na vida de estudante, na vida de escritor. A pior de todas foi Neide Mourthé, professora do Colégio Padre Curvelo. Os outros professores, em todos os níveis do ensino, mesmo na faculdade, eram péssimos, nem sabiam por onde passa a Literatura. Os conhecimentos que adquiriram foram para lhes garantir a cadeira no magistério, receberem o salário no final do mês. Nada mais.
Meus conhecimentos intelectuais não se reduzem a apenas alguns autores, críticos, ensaístas da literatura. Conheço a literatura universal, a filosofia universal, a teologia. Ao longo dos anos e das experiências, fiz a síntese destes pensamentos na minha escritura, assim tornei-me soberano (como tão bem escreveu a respeito o poeta Advaldo da Conceição), minha autenticidade, originalidade – não há quem em Curvelo na modernidade escreva na minha linguagem e estilo, e não haverá nos próximos cinqüenta anos, senão cem, só por milagre, e ele é possível, depende unicamente de Deus, no meu caso foi-me dada esta missão, Deus escolheu-me, no futuro escolherá outro, talvez não.
Por longos anos, nove, eventualmente ou não, servi-me de tablóides para a divulgação de minha obra literária-filosófica-teológica, era o único meio de que dispunha. Editores nos meus ouvidos falando por causa da linguagem e estilo, negando-se a publicar meus textos, tinha que escrever para o povo, tinha que falar a língua das massas. Para eles, para a mídia, ser escritor, ser artista é entrar no jogo da “mídia”, o objetivo deles é alienar o povo. Dostoiévski dizia que o intelectual, o escritor tem a obrigação de ler jornais – ressalte-se: no seu tempo. Hoje, se se quiser preservar a consciência, visão de mundo, inteligência, sensibilidade, deve-se não ler jornais, revistas. Só assim se entra na história, só assim se torna eterno e imortal, só assim é famoso, desfruta do sucesso, põe mais alguns vinténs no bolso, para satisfazer os caprichos e mazelas.
Mendiguei, ajoelhei, roguei, pedi pelo amor de Deus aos editores para publicarem meus trabalhos. Não aceitei as exigências, mas fui condenado a ouvi-las por todos esses anos. Fossem só eles, seria até inteligível. Mas advieram aqueles que se dizem escritores, ostentam valores supremos da importância na cultura, nas artes, com as suas divulgações: “Ninguém entende o que ele escreve”, “ele só escreve para a fina nata da cultura”, “ele só escreve para doutores, especialistas, críticos, intelectuais, homens cultos”. Qual a razão de eles saírem divulgando isto a todos os ventos, a todos os cantos, esquinas, botequins, reuniões, eventos sociais e artísticos? Ciúme, inveja. Sabem que é impossível seguir-me os passos, plagiar-me, até mesmo copiar-me. Sabem com percuciência que a minha cadeira no Olimpo está mais do que garantida, e querem o seu quinhão. Já saíram até divulgando meu estado de saúde, enfarto, queriam-me morto, assim o lugar deste néscio e imbecil não estaria sendo questionado. Já havia divulgado que eu jamais escreveria outra obra como Ópera do Silêncio, não conseguiu realizar seus propósitos, experimentou divulgar meu estado de saúde. Para sua ciência e conhecimento, Sendeiro da Luz Eterna já foi considerado pela crítica paulistana obra-prima. Em breve, será publicado em livro.  Se houvesse morrido com este primeiro enfarto, meu nome já seria eterno, radicalmente imortal. Minha missão de escritor não é com apenas alguns textos, devo ainda escrever inúmeros. Mas a inteligência nos tempos modernos é privilégio de poucos.
Razão In-versa nasceu nas páginas do tablóide E agora? Foram publicadas três edições, com o apoio, participação, patrocínio de empresários, a quem agradecemos sobremodo, somos-lhes eternamente gratos. Suplemento-caderno literário, apesar de figurar em jornais, tablóides, tem sua linguagem e estilo próprio, intelectual, culta. Razão In-versa não podia continuar sendo publicado em tablóides, tinha de ter vida própria, necessitava ser soberano, autônomo, original, não só para satisfazer os meus propósitos, mas de toda a equipe que nele escreve.
Assim, tornamo-nos independentes. Saímos do tablóide E agora? Recentemente, seu diretor, Geraldo Magela de Abreu, recorrera a interferência do amigo e Sargento da Polícia Militar, Raimundo de Oliveira, para persuadir-me a retornar a escrever no tablóide. Esta comunhão é impossível. Por que vou encarcerar uma coisa que por natureza e condição é livre? Disse-lhe que eventualmente poderia escrever alguma matéria, não em uma coluna minha, não estava voltando ao tablóide. Aliás, escrevi matéria sobre um feito humanístico de Raimundo de Oliveira, já publicado. Não escrevo mais em tablóides. Minha querida e mui estimada amiga D. Ernestina Barbosa, escreveu-me pedindo que comungasse Razão In-versa ao E agora, devido à importância de minha literatura, as pessoas tinham de conhecer o meu pensamento, a minha obra, ser mais divulgada. Apesar de minha consideração e amizade a D. Ernestina Barbosa, essa comunhão é impossível mesmo.
A mídia é para quem está reivindicando sucesso, fama, ter vinténs no bolso. Para mim, a mídia é nada, jamais me proporcionará o que realmente desejo, não tem competência para isso. Há quem realmente está interessado nisso. Há quem está morrendo de vontade de entrar na imprensa, divulgar seus trabalhos. Faça-o. Desejo-lhes boa sorte. São estes que devem escrever em tablóides, entrar na mídia. Contudo, a eternidade não lhes será garantida. Só o que transcende os tempos, gerações fica na eternidade. O resto é esquecido, sua própria natureza é efêmera. Quanto a minha obra, tenho consciência de que já é eterna, mesmo com todos os comentários depreciativos, negativos. No futuro, daqui a alguns séculos, será plenamente reconhecida.
“Ao leitor”, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis assim escrevera: “Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, cousa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez”. Que a minha obra seja lida hoje por cinco, mas tenho a consciência de que estes cinco sabem mesmo ler, sabem mesmo o que é isto Literatura verdadeira. Já me dou por satisfeito. Mas, em verdade, Suplemento-caderno Literário Razão In-versa já tem quinze leitores neste nível.  
        

         



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