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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

*AMURADA DE DESERTOS E PEDRAS - Manoel Ferreira Neto


 “A psicanálise é, em essência, uma cura pelo amor” (Freud)

Toda a glória do mundo fica a cargo da luz que tudo vê, que tudo ilumina. Até o amor - sexo inusitado e excêntrico entre dois namorados - é iluminado, em todos os pormenores de movimento, beijos, línguas, posições pelo olho luminoso que tudo vê.
Que acabou com a noite? Não sei se já houve o fim da noite, creio que não. Bem, ao menos no que concerne à minha sanidade mental, posso afiançar que o olho luminoso que tudo vê não acabou com a noite. Se “foi-é” intenção ironia, cinismo com as estrelas que brilham, consegui realizar a contento, servindo-me da estratégia do questionamento, enfatizando até; desde este início, encontro-me todo entregue nos braços destes companheiros de jornada, sendo característica principal... Analisar-me é ser tacanho, pedante.
Com as estrelas? De modo algum, brilham no céu, está à vista de quem ousar levantar a cabeça, olhando-as, deixando-lhes penetrar nas retinas. Quem sabe até pudessem enxergar poucochinho mais o que está acontecendo nas cátedras, escritórios, salões de arrasta-pés. Vejo-as brilhando. Tenho alguns graus de miopia e astigmatismo, portanto, não me é dado que o brilho das estrelas corrija estes males. Fosse assim, nenhuma ótica sobreviveria. É preciso que o brilho das estrelas não corrija estes males da visão para que as óticas aumentem o capital, a preferência por alguns clientes.
A possibilidade de eternidade para a vida? Se, até este nível, foram-me doadas as estratégias da ironia e sarcasmo, com esta indagação, se o olho luminoso que tudo vê acabou com a possibilidade de eternidade para a vida, esvaeceram-se o engenho e arte da ironia, sarcasmo. Tornou-se sério. Seria estúpido ridicularizar, dizendo que sim; aliás, isto era inevitável, necessidade primordial no concernente à eternidade para a vida. É necessário que existam, os homens não conseguem viver sem quimeras, fantasias, seria o sério nesta questão de ridicularizar.
Neste estilo e modo, penso assim: são necessários a luta, o trabalho contínuo, para que os homens possam atingir tão cobiçada glória, ideais e trabalhos se concretizarem, tornarem-se referência de época, sê-lo-á para sempre. Sério. Penso na eternidade, desejo-a, mas só alcançarei a partir do instante em que o que faço é referência de conduta, postura, ideais, sonhos, algo que a humanidade possa se servir para continuar a trajetória.
Ridicularizar, por mais que o visto seja contrário a estas idéias, ninguém pensa na eternidade, no fruto de seu trabalho tornar-se útil para tempos vindouros. As preocupações são outras. Referir-me a elas, seria estúpido de minha parte. Afianço até ser insanidade. Sou apenas um a ridicularizar. Quem é o ridículo: os outros ou eu? Negar o responsável seria colocar em dúvida o ridículo, e este existe com todas as letras em estilo barroco ou “escrachado” como a maioria.
Imagino ora - aliás, creio haver pensado antes; caso contrário, não há qualquer problema - qualquer movimento imprevisto, de amantes amando, qualquer toque ou carícia diferentes, que não tenham sido determinados antes, previstas e analisadas as glórias e satisfações; sejam vividos à luz de toda a luz que vê.
Quem sabe esteja vagando com estrela de profeta! Não sei o que fazer para não negar a imbecilidade. Sei que esta frase, ironicamente, pode ser trans-formada em notas musicais - não sou dotado deste talento, não saberia dizer como. É de deitar no chão de tanto rir.
Vagando com estrela de profeta, despontando o sol de meu jeito e estilo de ser homem, alegre, corpo, movimento, fala, gesto, voz, sexo, sonho, desejo. É quanto posso real-izar, deixar escrito nalguma estrela do céu, símbolo que iluminará os homens, a humanidade, se des-cobrir que a possibilidade de eternidade para a vida pode ser realizada, descobrir os dons e talentos escondidos atrás de alguma amurada de desertos e pedras.
Talvez em razão de des-possuída maneira de olhar as coisas, a saber, o brilho de soslaio quando olho alguém, perguntando-lhe se, enfim, resolveu comungar idéias e não interesses, como é de práxis, não sou visto como alguém quem ironiza até quando fala a sério, não há quem ou o que possa negar ou duvidar, são valores escritos em todas as luzes destas estrelas que brilham.
Às vezes, nas escolas, alunos e professores conversam, brincam, sobre coisas como o afeto, carícia, tesão, a cidade e sua Direita de dois lados, quem sabe a palma e a costa. Discutem o ritmo do coração, se bate sôfrego ou eufórico. Refletem sobre a vida com pujança de mudar, trans-formar, derrubar, juntamente com outras vidas a amurada de desertos e pedras que separam aluno de aluno, professor de professores, pessoas e cidadãos de pessoas e cidadãos.
Não é esta relação tão sincera, humana, sem dúvida possuidora de valor universal, eterno, não há o que ou quem possa negligenciar, duvidar, que faz brilhar a vida. Não sou homem débil quem acredita a noite ser desnecessária, futilidade a mais no meio de inúmeras outras. A noite é fundamental. Sem ela não é possível o sonho, desejo de transpor a amurada de desertos e pedras, de seguir a trajetória em direção a algum horizonte, seja ele qualquer, a gosto e paladar de qualquer criatura; sem ela não é possível o encontro e o desencontro das pernas; sem ela não se pode criar e recriar o mundo mais alegre, feliz.
Vésper não apaga a noite, nasceu para apagar as luzes que apagam a noite. Nisto é que está a principal meditação, ridícula, pois que a nível da superfície é atitude descabida. Refiro-me a estar imaginando que estes pensamentos que me surgem, na alma e espírito, seja onde for, não me importa, serem uma Vésper, o objetivo primordial é despertar para a ausência da inteligência e da sabedoria, estas que ensinam as luzes que apagam as ignorâncias, burrices, incoerências das criaturas que habitam o mundo, e nada poeticamente lhes habita.
Com estes pensamentos não haverá mais noite no mundo. Vésper nasceu para anoitecer o dia que diz que é claro, certo, lógico que a fome secular e a sede milenar possam existir. Vésper nasceu para tornar vespertino, manhã, todo mundo, tanto os que passam do lado esquerdo da Direita, quanto os que o fazem do lado direito da Direita, e mesmo  quem apenas a atravessam.
Não fico com medo pensando que a noite é o lugar e o espaço em que os dramas, conflitos, traumas, fracassos, sei lá mais o quê, se soubesse, seria ridículo.    


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